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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009




Rio Uruguai
J. Norinaldo


Este rio é muito velho contava meu bisavô
Histórias do Rio Uruguai contadas por seu avô.
Causos de assombração, tempestade afogamento.
Histórias de contrabando de valentia e de medo,
Mistérios de algum segredo por este rio guardado.
A beira de uma fogueira jogando conversa ao vento.

Histórias de muito sangue que já tingiu esse rio.
Histórias de noites longas a espera do Sapucaí.
Lendas de barcos com navegantes fantasmas,
Que singram em noites escuras as águas do Uruguai.
Histórias de homens a quem deu muita fortuna
Mas que levou muita gente, deixando filhos sem pai.

Contava meu bisavô que este rio era estreito,
E que com água pelo peito se ia até a metade.
Que tinha peixe em quantias era limpo barbaridade.
Uruguai onde eu menino pescava o lambari,
Banhava-me em praia rasa vigiado bem de perto,
Hoje é quase um deserto e só me resta à saudade.

Agora me vem um Piá que mal saído dos cueiros,
Com livros anéis e diplomas dizendo ser importante.
Ignorando o que disse o velho avô do meu pai,
Acho que foi pra cidade se tornar ignorante.
Prefiro morrer agora a acreditar nessa verdade,
Que o meu Rio Uruguai é um rio agonizante.

Porém isto não é tudo, mas vou lhe contar direito.
Falou com voz de arauto o moço estufando o peito.
Que o rio é responsável por toda chuva que cai,
Que quando é represado modificando seu leito,
O que o grande arquiteto fez o homem ora desfaz,
Mas depois não é capaz de modificar o efeito.

O que mais me entristeceu na conversa desse moço,
Mesmo depois de saber o que disse o avô do meu pai.
Quem ainda não cruzou o rio sem se molhar, um dia vai.
E me disse certa coisa que me causou calafrio,
Saber histórias do rio não me tornaria um herói,
Sabe o que mais me dói? É que sou um dos assassinos do rio.

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