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segunda-feira, 31 de maio de 2010


Todos Passaremos.
J. Norinaldo.

Todos passarão, eu passarinho,
Mesmo que me neguem um ninho
Para escrever o meu derradeiro verso,
Me despeço, da vida que não é minha,
A quem gostou da minha poesiasinha...
Agradeço mesmo assim a sua opiniãozinha.

Quem não lembra das palavras do poeta?
Quem esquece a sua bela poesia?
No final, escritas na escuridão
De um frio quarto de pensão,
Antes do despejo e a rua fria.
Será que isto também foi poesia?

Como lembrei de ti esta semana,
Relendo tua Gare de Astapovo,
Lembrei Catulo da Paixão Cearense,
Lembras? Catulo não morreu luarizou-se.
E agora imitei-te aqui dizendo...
Mário Quintana, não morreu, poetizou-se.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Entre os Galhos dos Pinhos
J. Norinaldo.

Do alpendre da minha cabana,
Eu ouço a montanha cantar,
A floresta escura em silencio,
A lua no lago a brilhar,
Olho entre os galhos dos pinhos...
E vejo um cuco a dançar.

O riacho murmura baixinho,
A fonte prossegue seu pranto,
Eu olho entre os galhos dos pinhos,
E escuto um lindo canto,
Volto os olhos ao lago e vejo...
Uma linda deusa a dançar.

Levanto os olhos pro céu,
E ouço a montanha a cantar,
E o lago se cobre de gelo,
E a deusa desliza a dançar,
Olho entre os galhos dos pinhos...
E vejo um cuco a me olhar.

O riacho murmura baixinho,
E a fonte prossegue a chorar,
Como um pranto de dor,
E o colibri voejando,
Em volta de uma flor,
Ouço até os suspiros de amor.

E de repente a montanha gritar,
Eu olho entre os galhos dos pinhos,
E o cuco assustado se foi a voar,
E o gelo do lago agora só lixo,
Agora entendo o pranto da fonte...
Era um sonho e começo a chorar.



terça-feira, 25 de maio de 2010


Velas ao Vento.
J. Norinaldo.


No auge da fúria o mastro se curva,
A vista se turva no negro da noite,
O barco parece um velho indeciso,
No balé das vagas a morte desliza,
No céu as estrelas parecem uma escrita,
Que a vida recita, navegar é preciso.

E a onda bordada por alva espuma,
Açoita malvada o lombo da vida.
E o céu balançando na rede dos sonhos,
De quem desprezou um dia o paraíso,
E a voz de Netuno em gritos medonhos...
Ressoa no mar, navegar é preciso.

Azeitam-se as candeias se retorna o rumo,
E a renda bordada reflete um sorriso,
Daquele que vence a borrasca sem medo,
E o poema das estrelas remete um aviso,
Para viver a vida existe um segredo...
Jamais esquecer que navegar é preciso.

Navegar é o destino de uma nação,
Que apontou sua proa para o desconhecido,
Que com garbo e denodo enfrentou a procela,
Pôs acima da vela a vontade altaneira,
No legendário dia de 22 de abril...
Hasteou no Brasil a sua bandeira.


O Teatro Verdadeiro.
J. Norinaldo.

Depois dos estertores da procela,
No acrílico olhar que já não vê,
Fecham-se as cortinas para sempre,
Do teatro em que somos seus atores,
Esquecido o alarde da ovação,
A dor convidando a oração.

E num cortejo desprovido de pompa,
Chega à rampa da descida derradeira,
Volta à terra a semente do seu fruto,
Na chegada à alegria verdadeira,
Na passagem a escola sem carteira...
Na partida a desolação e o luto.

Conhecida de cor e salteada,
A história que jamais será mudada,
Um caminho sem espinho ou mistério,
Depois que as cortinas se fecharem,
E pétalas o teu leito enfeitarem,
Feio ou belo tu serás do cemitério.

Por que então tanto orgulho e vaidade?
Se para todos um dia a vida se encerra,
E que na terra não há germes vaidosos,
Nem necessitam por comida ir à guerra,
A diferença? Talvez uma pedra de mármore,
Com outro ao lado sob um monte de terra.





segunda-feira, 24 de maio de 2010


Poeta e Poesia.
J. Norinaldo.

É fácil falar da fome diante de um banquete,
Ou então ver a miséria da porta de um palacete,
Dizer da taça de fel sem conhecer seu amargor.
Difícil é descrever a beleza a ternura,
Destilar um rosário de candura,
Num labirinto se contorcendo de dor.

Estaria certo o safado do Charles Bukowski?
Que para se escrever poesia precisa-se muita dor,
Ou o mestre Patativa do Assaré nosso poeta matuto?
Ninguém escreve meu sertão do conforto em que está,
Se não conheces um pouco do meu sofrer...
Não precisa me entender, cante lá que canto cá.

Para muitos poesia seria somente falar de amor,
Saber o nome da flor que mais encante um vivente,
Mas o poeta precisa escrever o que a alma dita,
Mesmo não sendo bonita a poesia se sente,
As vezes relendo algumas que escrevi no passado...
Que queria ter apagado da minha vida presente.

sábado, 22 de maio de 2010


A Precoce Colheita.
J. Norinaldo.

As feições se transformam em carrancas,
Os sinos badalam a concitar os incautos,
O grito em templos construídos de nada,
Promete ao aflito a paz tão sonhada,
Em nome de Cristo se fazem de arautos,
Da porta do céu tem a chave guardada.

Convidam as crianças como Jesus mandou,
Mas se aproveitam da sublime inocência,
Ensinado o caminho que leva ao abismo,
Luxúria e cinismo no lugar de consciência,
A inocência que busca o caminho do céu...
Encontra o dedo que aponta o bordel.

O pão é Meu corpo o vinho Meu sangue,
Comei e bebeis, pois assim há de ser,
Se recusares o cálice por que és um fraco,
Se usares Seu nome em busca de prazer,
Se colheres o fruto sem amadurecer...
Confundes Seu sangue com o vinho de Baco.


quinta-feira, 20 de maio de 2010


Orgasmo.
J. Norinaldo.

Queria ter o poder para explicar a solidão,
Para entender o amor em toda sua amplitude,
Sem justificar atitude de quem mata por amar.
Falando de almas gêmeas sem nenhuma restrição,
Que o amor não fenece com o passar da juventude,
E que há o amor solitário em uma masturbação.

Queria ter o dever de desvendar o mistério,
Que vai para o cemitério como mentira e sarcasmo,
De quem ostenta a beleza que o espelho tanto aprova,
E o orgulho leva pra cova sem conseguir um orgasmo.
Por que o lado egoísta do seu prazer nada cede,
E assim o amor mingua, tem a língua mas não pede.

A beleza do amor existe somente na poesia,
Como a beleza das flores é efêmera passageira,
Como chuvas de verão que sequer abrandam a poeira,
Os beijos antes do ato que chamamos de amor,
Entre a dose de whiski e o cigarro do depois...
Apenas masturbação, não por um, mas entre dois.

Depois vem o desespero e o choro na escuridão,
Ou com o auxílio da mão buscando o prazer negado,
No exílio do silencio na falta de entusiasmo,
O amor é esmagado pelo cajado egoísta,
Onde o cansaço madorna envolvido no marasmo...
E a epifania do amor segue ansiando um orgasmo.


domingo, 16 de maio de 2010

Solitário.
J. Norinaldo.

Ah! É tão fácil falar de felicidade,
Descrever as belezas de um amor,
Não é simples degustar uma saudade,
Uma mágoa que jamais terá um fim,
Se você não quer conhecer a dor...
Baixe os olhos um dia ao cruzar por mim.

Quantas noites sem dormir olhando o teto,
Sem afeto tendo o frio a me aquecer,
Pelas frestas a lua me convidando,
A ir lá fora ver a vida acontecer,
Mas prefiro conversar com o travesseiro,
Perdido no deserto do meu ser.

Quem me engendrou este labirinto?
Que sinto que a saída não existe,
A saudade é uma dor que dói por fora,
Ah! Como desejo desaparecer agora,
A viver nesta solidão tão triste,
Mas minha alma insiste em não ir embora.

Implorar não adianta e para quem?
O socorro nunca vem ou chega tarde,
E a vida oferece o teto por paisagem,
E quem consegue decifrar sua mensagem,
Descobre que foi fraco ou um covarde...
Cuja vida não passou de uma passagem.

sábado, 15 de maio de 2010


Depressão.
J. Norinaldo.

As pontas de cigarro no cinzeiro,
O mau cheiro da toalha colorida,
O medo de caminhar a minha volta,
A revolta com a brincadeira da vida,
Um grito arquejando no meu peito,
Por um leito pra curtir minha bebida.

A menina curiosa com seu gato,
Que de fato nada sabem sobre a vida,
Seu olhar não reflete quase nada,
De quem tem por caminho a calçada,
Por brinquedo uma boneca encardida,
Noutras mentes o destino já traçado.

Cristalina só a bebida no meu copo,
Como um lago onde a vida mata a sede,
A felicidade está longe, muito longe,
Madornando numa sombra em sua rede,
Ou talvez na criança e no seu gato...
Ou quem sabe nos desenhos da parede.

Na vidraça ensebada do boteco,
Vejo restos de alguém sentado à mesa,
Cujo olhar não chega cruzar a rua,
E as lembranças desfilam no sujo piso,
Diabos de que mais será preciso...
Para pagar esta vida nua e crua.

segunda-feira, 10 de maio de 2010


Pantanal
J. Norinaldo.

Deus queria dar um presente,
Para o seu filho querido,
Já tinha até escolhido,
Um de beleza sem igual,
E no Seu aniversário,
Que aqui chamamos Natal,
Numa bandeja de ouro,
Lhe entregou o Pantanal.

Lhe disse filho querido
Existe um lugar na terra,
Onde o povo não faz guerra
E onde o céu é muito azul,
Portanto, confia naquela gente,
E deposita Teu presente
Em Mato Grosso do Sul.

O arco íris ali será permanente,
Aquele povo se chamará pantaneiro,
E por mais simples que seja sua chalana,
Tu estarás sempre na popa
Para ser seu timoneiro.
Oh! Pantanal, aos olhos meus...
Tu és tão belo quanto o sorriso de Deus.

sábado, 8 de maio de 2010


Dia das Mães
J. Norinaldo.

Nada na vida é mais belo que um sorriso de mãe,
Um abraço um carinho, o eu te amo sincero,
Uma mãe é primavera a distribuir perfume,
Que doa a vida aos filhos pelo instinto materno,
Para uma mãe o inferno é o sofrimento do filho...
Pena que tantos deles não reconheçam seu brilho.

Uma mãe é como a vida Deus nos deu apenas uma,
Este é o maior tesouro que um homem pode ter,
Mas um dia os sinos tangem anunciando um cortejo,
As vezes o filho ausente para o último beijo,
Outros que seguem cabisbaixo repontados como boi,
Chorando outras ausências com a maizinha que se foi.

Eu sei não passei por isto e hoje sofro sozinho,
Sem ter a quem dar carinho ou mesmo chamar de mãe,
Não culpo a vida por isto tive o que bem mereci,
Espero que lá no céu Deus possa entender meu choro,
Pois sei como vim ao mundo, mas nunca tive tesouro...
Nenhuma canção de ninar da mãe que não conheci.

Você que está lendo agora esta minha poesia,
Beije sua mãe por mim, beije-a sempre todo hora,
Diga-lhe o quanto a amo, pois a minha foi embora,
Diga-lhe o quanto a ama o quanto ela é importante
Mas não deixe pra depois isto tem que ser agora...
Dia das mães é todo dia, não um ano distante.



domingo, 2 de maio de 2010


Ardor e Desprezo.
J. Norinaldo.

Se o vento atrevido te ergue a saia,
E te deixa constrangida em plena rua,
Aos olhares cobiçosos dos passantes,
Imagina o que causa aos teus amantes...
Quando rolas na alcova plena e nua.

Embevecidos transeuntes a sonhar,
Com a tela que o vento pinta ao vivo,
Da efêmera visão das tuas coxas,
Do teu rosto corado sem motivo,
O que torna este sonho mais lascivo.

Quantos sonhos tu inspiras a cada noite?
Quanto archote de paixão manténs aceso?
Mas não esqueces que a beleza também passa,
E que algum dia um outro vento brincalhão,
Poderá erguer-te a saia, a olhares de desprezo.


Ser Incrível.
J. Norinaldo.

Eu sou mesmo incrível, leso perecível,
Às vezes poeta da rima impossível,
Por vezes profeta às vezes horrível,
Às vezes impassível por vezes alerta,
Quem às vezes erra, mas também acerta,
Quando a fome aperta não sou insensível.

Quando me provocam também sou terrível,
Quando navegando não me atenho a rumo,
Sou como a montanha que despreza nível,
Quando estou lutando sei que sou temível,
Sou como o fruto que já não tem sumo;
Mas é mesmo amando que eu sou incrível.

Minha poesia é um tanto ilegível,
O dizer que diz um tanto indizível,
Como ser humano sou quase invisível;
Mas como poeta sou indestrutível,
Podem achar até o meu poema horrível...
Quando estou amando sei que sou incrível.

Falando de mim um tanto bombástico,
Como mentiroso sei que sou fantástico,
Sei que o meu caráter não é bem visível,
Pra falar dos outros não sou muito enfático,
Falando em beleza já sou pouco empático,
Mas amando mesmo sei que sou incrível.