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terça-feira, 29 de junho de 2010

Troco.
J. Norinaldo.


Troco minha liberdade por uma tigela de sopa, por uma muda de roupa, por um pedaço de pão, a liberdade me dão, mas não me deixam usa-la, porém a fome não cala a minha desilusão. Posso caminhar no parque posso adentra o templo, porém não sirvo de exemplo para a sociedade, a minha felicidade é um prato de comida, daquela que foi servida para quem a vida repara e das migalhas separa pra quem não repara a vida. Troco minha liberdade por uma tigela de ervilha, uma antiga cartilha e alguém que me ensine, para que meu nome assine no livro da amargura, pelo remédio que cura um pouco dessas feridas que trago de outras vidas pagando com altos juros.
Troco minha liberdade e tudo que na vida trago, por um abraço um afago, por um aperto de mão, se a fome não me cala, troco minha liberdade por um prato de sopa rala e um pedaço de pão. Por que caminho sem norte o tal do príncipe sem sorte, que não sirvo nem pra morte, disfarçar a solidão. Vejo a aranha em sua teia a buscar o seu sustento, porém eu só tenho alento para estender a mão. Uma mão que ninguém pega, por que a vida me nega um pouco de ilusão, mas quando sonho, sou belo, tenho tesouro castelo, mesmo dormindo no chão?

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Boi de Canga.
J. Norinaldo.


Lá vai o trem, o trem se foi,
Levando o boi que criei com amizade,
O meu amigo que nunca foi à cidade,
Vai agora justamente pra morrer.
O que fazer? O boi não é meu,
Amanhã o meu amigo já morreu.

O patrão está doente e precisa de dinheiro,
Vendeu o boi para cuidar da saúde,
Pra morrer o boi tem que está saudável
Se doente, ninguém compra ninguém mata,
Ainda sinto o seu cheiro com saudade...
Quanta maldade desta vida miserável.

Na partida não vi tristeza em teu olhar,
Pois não sabes o destino que te espera,
A morte fria por um maço de papel,
Ignorante como sou nem sei dizer;
Se tens alma e se esta entra no céu,
Lá vai o trem, o trem se foi levando o boi.

Olha amigo, sei não serve de consolo,
Mas segue o teu destino e não te zanga,
Quem te vendeu já está quase no fim,
E já lhe resta muito pouco a vender.
Também é triste o que aqui vou te dizer...
Só na miséria é que se vende um boi de canga.

sábado, 26 de junho de 2010


Os Louros da Morte.
J. Norinaldo.

O veneno na ponta da flecha lançada,
Que o mundo conserva no jardim do ódio,
Como a flor da papoula conserva no ópio,
As folhas de louros que ornam frontes no pódio.
Outras folhas escondem a desgraça do vício,
E a flecha lançada não volta ao início.

Como a palavra dita a flecha se vai,
Levando na ponta o ódio do mundo,
Plantado profundo no jardim vitalício.
Da folha o veneno levado na flecha...
A vida é ceifada pela foice do ódio,
E também destruída pela folha do vício.

E o desamor continua reinando,
Sem antigos altares para sacrifício,
Nos teatros de guerra com luzes de fogo,
Esquecendo Daquele que inventou o jogo,
Dizendo que Deus está na natureza;
E desta beleza tirando o seu vício.

Cultiva os jardins mantidos em segredo,
A semente do sonho da alucinação,
Parte da humanidade como gado de corte,
Caminha pra morte inalando o perfume;
Alguns que caminham sozinhos pra tumba...
Ao encontro dos vermes, cheirando estrume.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Viver e Passar.
J. Norinaldo

Como as cenas de uma peça nunca escrita,
Que de sombras são formados seus atores,
Encenada num palco de ilusões e fantasias,
Que não resistem as luzes dos refletores,
Assistida por platéia de fumaça...
Que não vive a vida, apenas passa.

Assim são poemas nunca escritos,
Recitados por fantasmas nos porões,
Onde a lua pela fresta dos telhados,
Representa os refletores dos salões,
No recôndito da alma do poeta...
Que aplaude sua obra encantado.

Como as cenas de uma vida não vivida,
Personagem de um enredo inexistente,
Parte do pavor de um moribundo,
Que chora prestes ao deixar o mundo;
Sem nunca ter plantado uma flor.
Sabendo que não viveu, só passou.

Viver e passar são tão diferentes,
Assim como ser amado e amar,
É diferente aquele que planta a flor
A cultiva com carinho e amor,
De quem simplesmente colhe e dá.
Disse o poeta: tente viver, não passar.



quarta-feira, 23 de junho de 2010

Loucura.
J. Norinaldo.

Medo, medonho, magnético, pânico da visão das arraias e das aranha, da solicitude dos braços de um amante, medo de cegar a fantasia, te isenta de quebrantos e feitiços, teu erro está no olhar mortiço quando entregas o corpo a corrida obscena cujos louros subliminares, como as falsas promessas nos altares e sacrifícios dos versos inauditos. O que sentes não é medo, simples cismas e temores por isto não morres de amores por atmosferas de cetins e entusiasmos, quando não te poupa nos orgasmos em nada subliminares. O fogo de Deus cicatriza a ininterrupta sangria, em vez da alma a vida te cai aos pés e facilita a abertura dos pilares a mostrar que entre curvas e conflitos, arde a fogueira da paixão. Não, não vives num mundo a aparte, sois apenas baluarte de uma síntese que debocha da razão.
Na verdade tu tens medo da loucura, sem saber o quão é bela, pois nela somos o que queremos ser, tecer da seda o mais belo tule, não esconde a beleza original, imitando a aranha a quem temes, mas não tremes diante do normal. Eu sou louco, muito louco, talvez pouco para o que quisesse ser, para sempre a loucura do meu verso, que talvez nada queira te dizer.

terça-feira, 22 de junho de 2010


Tua Beleza.
J. Norinaldo.

Esta tua beleza menina,
Não sovina o encanto do olhar,
Quem te deu a beleza divina,
Deu a mim o direito a sonhar.
A montanha não sai do caminho...
Mas não impede o vento passar.

Não encantas somente os meus sonos,
Outros sonhos também hás de encantar,
Se não podes amar quem te quer,
Por seres somente uma mulher;
Deixas quem quer te amar,
Mais amor, tem aquele que dar.

O espelho só revela esplendor,
Mas a beleza se encontra no todo,
A flor de Lótus que é tão rara,
Só nasce onde existe lodo.
A montanha é tão alta e tão velha...
Mas nela o vento não pára.



sexta-feira, 18 de junho de 2010


O Encanto do Amor.
J. Norinaldo.

Não importa a curva do monte,
Independe da força do vento,
Ignore as lamurias da fonte,
O amor transcende barreira,
E atravessa na sombra da ponte,
Com a força de um pensamento.

Quem se curve as agruras da vida,
Abre as portas a convite da dor,
Não vê a beleza de um lago,
Nem sente o perfume da flor,
O sabor do mel é amargo...
Desconhece o encanto do amor.

Se o monte é alto e distante,
Se o vento não tem cheiro nem cor,
Se não ouves a canção da brisa,
Se a fonte por acaso secou;
Quem se curva às agruras da vida...
Desconhece o encanto do amor.



quarta-feira, 16 de junho de 2010


A Arena.
J. Norinaldo.

Os gladiadores são vistos do alto,
Vivem em castelos e divertem os pobres,
Chutando uma bola como um mundo miúdo,
Na arquibancada não cabem aos nobres,
A arena no entanto não é pra quem quer,
E a fome do mundo aplaudindo de pé.

Enquanto se canta o hino da pátria,
Se pensa na prata que da lutam vem,
O melhor lutador tem em ouro seu nome,
E para vê-lo o pobre dar tudo que tem.
E o gladiador faz o que quer do mundo...
Mas o pobre não pode driblar sua fome.

Mesmo assim a arena está sempre lotada,
E o pobre está sempre na arquibancada,
Endeusando a quem não sabe quem é.
Aumentando a fortuna com sua pobreza,
Hasteando a bandeira da sua alteza...
E a fome do mundo aplaudindo de pé.

A copa da árvore ao pobre da à sombra,
E abriga a vida num ninho qualquer,
Como a copa da carta do jogo de poker,
E o poço ficando cada vez mais fundo,
E o pobre gritando o nome do ídolo...
E a fome do mundo aplaudindo de pé.



segunda-feira, 14 de junho de 2010


Quatro Marias
J. Norinaldo

Vi uma menina com outra no colo,
Mais duas no solo chorando de fome,
Quatro crianças na estrada da vida,
Sem lugar de chegada e nem de partida,
A mãe é chamada de Maria Bethânia...
E as filhas Marias sem ter sobrenome.

Em vez de ajuda-las me ponho a chorar,
Sem me dar conta que cada lágrima que cai,
É uma pergunta que a muito me faço,
Quantas Bethanias existem no mundo,
Que alguém iludiu com um sorriso falso,
Como a minha Bethânia não me deu um pai.

E quantas crianças que choram na vida,
Criando com lágrimas cascatas de dor,
E a fome que mata sem ter piedade,
A quem já nasceu para a infelicidade,
E assim chorando a Bethânia se vai...
Eu e quatro Marias em busca de um pai.

sábado, 12 de junho de 2010


Menina de trança.
J. Norinaldo.


Mamãe o que é antigamente?
Por que a vovó fala tanto nele?
E fica tristonha quando lembra o que?
E eu curiosa pra saber o por que?
Por que antigamente ela foi menina
E atualmente ainda queria ser?

As pessoas que falam em antigamente,
Ainda falta muito para você falar,
Quem sabe algum dia quando vovozinha,
Falando sozinha num canto qualquer,
Relembre a conversa que temos agora...
Antigamente já foi, querida não é.

O seu antigamente já não será o mesmo,
Do qual a vovó lembra com saudade,
Da calçada inocente da amarelinha,
De brincar no terreiro em noite de lua,
A calçada hoje oferece a menina nua,
Que o mundo aceita por perversidade.

Hi! Mamãe, mas o que é terreiro?
Antigamente a vovó falava outra língua?
A língua é a mesma com alguma mudança,
Só que o romantismo já morreu a míngua,
Hoje existem as meninas de transa
No lugar das antigas ameninas de trança.

quinta-feira, 10 de junho de 2010


Bajular.
J. Norinaldo.

Ao turíbulo que bajula o tirano,
Sobram as cinzas do incenso ofertado,
E o vento livre leve e soberano,
Leva o perfume muito além do bajulado;
Quem adula um senhor por seu castelo...
Não vale as cinzas de um incenso queimado.

A compaixão dói muito mais que o desprezo,
Pobre daquele que atrai a compaixão para si,
Viverá para sempre se curvando,
Seus caminhos não passarão de picadas;
Ninguém jamais seguirá suas pegadas,
E confesso compadeço-me de ti.

Conhecerá a felicidade noutros,
Teoria que jamais confirmará,
Acredita ser feliz com o que faz,
E a fumaça do incenso lhe desvia,
Pouco adianta dizer que não sabia...
Quando em fim já será tarde demais.

Quem bajula esquece a si mesmo,
Vive a esmo somente pra bajular,
Mas a vida não bajula quem adula,
Quando os sinos tangerem seu louvor,
Foi-se apenas mais um sabujador...
Sem turíbulo, sem incenso, sem amor.





quarta-feira, 9 de junho de 2010


A Ciranda da Vida.
J. Norinaldo.

Vamos pular corda, brincar de roda ou cirandar?
Vamos aproveitar a beleza da lua
Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar,
Amanhã é futuro e quem sabe não haja mais rua,
E nossos pais por medo não nos deixem brincar,
Vamos dar a meia volta, volta e meia vamos dar.

Demos meia volta viramos as costas para inocência,
E a lua tão bela que inspirava as nossas canções,
Hoje incomoda quando clareia a nossa indecência,
Que em nada lembram as brincadeiras de outrora,
O brinquedo inocente na boca da noite,
Que hoje se estende ao raiar da aurora.

Ciranda, cirandinha não vamos mais cirandar,
Hoje já não tem sentido a palavra brincar,
Ainda existem as brincadeiras de rodas,
Que em nada parecem as de antigamente,
E as mãos que faziam o elo inocente,
Hoje forma a corrente pra fumar e cheirar.

E a gangorra da vida segue seu avanço,
E a cada balanço se encolhe e se entrega,
A ciranda da vida continua girando,
Que o mundo está podre a humanidade nega,
A sensatez não enxerga um palmo diante do nariz,
E o homem infeliz, pois o dinheiro o cega.

segunda-feira, 7 de junho de 2010


O Homem e o Boi.
J. Norinaldo.

Em volta do cocho se alimenta a vida,
Com a erva servida somente aos bois,
Que o homem fornido com o trigo da terra,
Conserva na encerra pra comer depois;
A vida ceifada que alimenta aquele...
A imagem de Deus, que deus é que sois?

O homem que mata e abastece a mesa,
É a imagem de Deus em sua perfeição,
Aquele que mata seu irmão na guerra,
Aprendeu a tirar o sustento da terra,
E o sentimento de amar seu irmão;
Tem que ser assim diz enquanto erra.

Já marcou seu semelhante a ferro e a fogo,
Fez da vida um jogo com cartas marcadas,
Em busca de ouro não vê onde pisa,
O golpe de sabres rabiscou a terra;
Criando divisas nações separadas...
Tanto o boi quanto o homem a vida precisa.

Vem de muito longe a divisão do pasto
E o gosto nefasto de comer a vida,
A carne do homem não serve ao boi,
É a carne do boi que os banquetes consomem;
O primeiro a comer ninguém sabe quem foi...
Mas a terra é quem come o boi e o homem.




sábado, 5 de junho de 2010


Dia do Meio Ambiente.
J. Norinaldo.

O meio ambiente ingrediente do meio,
Entre o homem e o lixo entre o belo e o feio,
O homem agride o ambiente em que vive,
Por que somente vive não sabe a que veio,
A terra é a mãe que lhes dar a vida,
Mas ele revida mordendo seu seio.

Ah! Quanta beleza para ser destruída,
Ah! Quanta madeira para ser derrubada,
Ah! Quanta água para ser poluída,
Quanta natureza a ser desequilibrada,
Ah! Quanto veneno há na minha mesa,
Ah! Quanta luz para ser apagada.

Enquanto a vida na terra é ceifada,
Na guerra de dor no forno da ira,
O homem buscando um planeta melhor,
Deixando a terra um molambo de tira,
De longe ainda vista de azul cintilante,
Como um diamante que no lixo se atira.

Hoje é o dia do meio ambiente,
Qual é o presente que a terra recebe?
Mais lixo nos rios artérias do mundo,
Nos cochos imundos em que o homem bebe,
Matando a si mesmo em prol de riqueza...
Com tanta beleza, mas ele nem percebe.

O Destino.
J. Norinaldo.

Nos passos tão lentos que o velho deu,
Já não vê os espinhos que o caminho tem,
Como uma criança ao deleite do tempo,
Na corrida incerta na busca do norte,
O soneto mais triste que a vida escreveu...
E usou como pena a foice da morte.

Quem indica o rumo é o dedo da vida,
Quem olhar para trás vira estátua de sal,
Não existe um atalho pra se chegar primeiro,
E as cartas são duas a do bem e do mal.
Você só poderá ser pastor ou cordeiro...
Mas todos serão esterco no berro final.

Não adianta tentar fugir ao destino,
Pois este é escrito em bronze profundo,
Para sempre a montanha corcunda da terra,
E o vento que agita o campo o trigal.
O sol que consegue aquecer o mundo...
E no fim, pastor e cordeiro no mesmo curral.

quinta-feira, 3 de junho de 2010


Poker de Cinco Damas.
J. Norinaldo


As cartas são dadas o jogo encerrado,
A mesa se forra com uma fortuna.
Ao ver minhas cartas a grande surpresa,
Quatro damas parecem sorrir para mim,
Como a dizer para que tantas blasfêmias?
Estão aqui quatro fêmeas para te socorrer.

Uma a uma as cartas despencam no pano,
Mãos empurram pra mim a grande bolada,
Que guardo nos bolsos sem nenhuma emoção.
Sinto a brisa a porta, olho o céu vejo a lua,
Amantes aos beijos a beleza da rua, a vida no cio,
Sigo silente, o caminho de sempre um quarto vazio.

Até que me lembro do amor comprado,
Medido, pesado para pronta entrega,
Que o vento carrega depois de usado,
Pego o telefone e faço um pedido,
Logo atendido com beleza e talento...
Mas uma dama do jogo da vida.

E me chega a beleza montado num atelier,
Que dá gosto de ver, mas tem gosto de nada,
E que pago o justo pela falsa chama,
E as marcas de suor que ficam nos lençóis,
Me lembram uma vala repleta de lama,
Declamo Bukowski e durmo na sala com nojo da cama.