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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Pérolas e Ostras.
J. Norinaldo.


Sublimam-se as perolas coruscantes,
Que cintilam na vida e esquecem origem,
Um grão de areia que aleija um molusco,
Para adornar o colo da vaidade,
Contas de um rosário que derrama vertigem,
Como o véu da mentira empalha a verdade.

Cortinas que vedam as janelas da alma,
São as nódoas que cegam os olhos da vida,
E o colo enfeitado de verdes safiras,
Por vezes esconde na moldura a perfídia...
Em cores berrantes de vagas mentiras.
E o beco louva Baco com vinho barato.

Da pérola o brilho a ostra ao lixo,
Da uva o vinho a videira ao relento,
Da mãe o rebento e o fértil canteiro,
Ao colo o colar que adorna e seduz;
As janelas da alma pesadas cortinas...
Aos olhos da vida a falta de luz.





domingo, 26 de setembro de 2010


O Homem e o Passarinho.
J. Norinaldo.

Pela vida juntando os gravetos,
Levantando as paredes do ninho,
E cantando em agradecimento
Assim vive o passarinho,
Que na árvore cria o filhotinho,
Que é seu palco e lhe dá o alimento.

A terra é a árvore do homem,
Dela o pão e o barro pra parede,
Brota a árvore que lhes dá o fruto,
E a água que lhe mata a sede;
O homem faz o seu ninho da árvore...
Deixando o passarinho de luto.

A água suja que a nuvem recebe,
Destila e devolve brilhante,
O homem polui novamente,
Como se a nuvem fosse sua escrava
Como a lavadeira que sua roupa lava,
Sem ter medo que seque a vertente.

O passarinho continua cantando,
Não se cansa da mesma canção,
Nunca muda o formato do ninho,
Não compôs a canção pra vender
Viver como os passarinhos...
É tão simples, tão fácil, é só querer.

sábado, 25 de setembro de 2010


Caminho e Solidão.
J. Norinaldo.

Exorta-me a montanha e o beija flor,
Exorciza-me a vida o sol e a lua,
Busco no perfume das flores,
No pólen minimizar os amargores,
Vestindo de estrelas a alma nua.

Na procura da estrada mais comprida,
Seguindo as pegadas do destino,
Sem atalhos que encurtem o caminho.
Com a sombra que o sol deixa ao meu lado,
E a solidão que não me deixa sozinho.

Iniciei o caminho engatinhando,
Hoje os meus passos são tão largos,
O caminho vai ficando mais estreito,
Os pensamentos vão ficando mais amargos,
Talvez chegue engatinhando de outro jeito.

A saudade vai ferindo a minha alma,
Dos amores que deixei pelo caminho,
Meu cajado vai ficando bem mais curto,
Cada vez menos a voz do vento escuto...
Vai ser tão triste chegar ao fim sozinho

terça-feira, 21 de setembro de 2010


Sonhar ou Viver.
J. Norinaldo.

Quem me deu o direito de sonhar,
Esqueceu de me dar a escolha do sonho,
Eu não quero, nunca quis um pesadelo,
esquecê-lo, é o que sempre me proponho;
Em cada novo acordar apavorado,
Desço um degrau do pedestal em que me ponho.

Ah! Existem sonhos tão bonitos,
Que acordar passa a ser um sacrilégio,
Sinal que viver nem é preciso,
Pois sonhando quando estou no paraíso...
Sinto que talvez morrer seja um privilégio.
Eis o motivo deste poema indeciso.

Viver e morrer, eis a questão,
E se morrer for viver eternamente?
E se eternamente for tempo demais?
E descobrirmos que viver é só sonhar,
Que sou a imagem de um sonho de alguém...
Que é apenas parte de um sonho também.

Tantas perguntas sem respostas,
Tantos sonhos sem explicação,
Como um labirinto sem saída,
Como saber se estou vivendo?
Se quando sonho que estou morrendo,
Alguém diz que isto é sinal de vida?

Rios de Lágrimas.
J. Norinaldo.

Pelos sulcos da face tão curtida,
O mapa que a vida desenhou,
São rios enredados de afluentes,
Leitos secos inundados de repente,
Pelas lágrimas de decepção e dor.

Rios que nunca chegam ao oceano,
Ao mar de lágrimas de que fala a poesia,
Cuja nascente está na alma de quem sofre,
Enquanto gritos abafados pelas ondas...
Da corrente ao sabor da ventania.

Só o espelho é sincero e verdadeiro,
E o abismo tão soturno e traiçoeiro,
E as enchentes desses rios de que falo,
Não traz vida como um rio de verdade,
Ao contrário leva a vida o valo.

Por que chorar se a vida é tão bonita,
Se a beleza da flor é passageira,
Como o rio na vida tudo passa,
Assim como é belo o vôo da garça...
E nem por isto ela voa a vida inteira.

domingo, 19 de setembro de 2010


O Caminho e as Pedras.
J. Norinaldo.

Caminho sempre a olhar em frente, com medo dos fantasmas que me seguem, me perseguem desde o meu engatinhar, dos dragões que povoam minha mente, que pululam em meus sonhos com freqüência, que dançam nas miragens do deserto. Não sei aonde vou chegar, meu cajado apenas me apóia, não me diz se estou no caminho certo, deixa apenas ao lado dos meus rastros, o seu rastro solitário. O limo das pedras do caminho indica que nunca caminharam. o medo dos fantasmas e do limo, me mostram que a vida é um caminho e o limo gruda naquele que parar. Sufoca-me a incerteza do caminho, cada curva, cada pedra é uma prova, que a vida se renova a cada susto. Tenho tempo, tenho vento e posso ver a beleza nos aceiros do caminho, nas flores que anunciam a primavera e nos frutos que alimentam o passarinho, me aliviam a tristeza do final. Pelo visto cada um tem seu caminho, mesmo juntos caminhando lado a lado, de algum modo o caminho é separado, mesmo que o destino seja o mesmo e para sempre. Eu preciso caminhar, até quando? Não sei. O que se encontra no final... eu sei.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O Mendigo e o Rei.
J. Norinaldo.

Os bordados do manto da rainha,
Que realçam as vestes da nobreza,
Os enfeites da fachada de um castelo,
Nunca mostram a sua real beleza,
Os remendos da roupa do mendigo...
Mostram apenas parte da sua pobreza.

Mendigos talvez que em outras vidas,
Tenham vestido paramenta bem bordada,
Se for mesmo que existem outras vidas.
Vestem hoje trapos com remendos,
Enquanto a alma paga suas dívidas,
Sem direito ao amor ou referendo.

Enquanto a vida passa como um sonho,
A montanha vai ficando bem mais alta,
Outra agulha vai bordando mais um manto,
E as sobras da tesoura eu bem sei,
São retalhos que a vida vai juntando,
Para os trapos do mendigo que foi rei.

terça-feira, 14 de setembro de 2010


Fim da Estrada.
J. Norinaldo.

As pegadas que deixo pelos caminhos,
Solitárias são mensagens que transmito,
Apenas um par de pegadas na poeira,
Junto ao eco do silencio do meu grito;
O auxílio de um cajado que me apóia...
E testemunha que se ando logo existo.

Diz a vida, até as pedras se encontram,
Caminho sempre na esperança de encontrar,
Alguém que me indique outro caminho,
Que não me leve a caminhar sempre sozinho,
Onde a felicidade ainda não passou.
Onde haja flores e as pegadas do amor.

Será triste descobrir no fim de tudo,
Quando encontrar alguém que vem de volta,
Que também percorreu a estrada só,
Dizer-me que na faixa da chegada,
Estará escrito na poeira da estrada...
Aqui deverás voltar ao pó.


quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Alucinação.
J. Norinaldo.

O som da matraca alerta o mundo,
Para a morte invisível que escapou,
Das mãos de algum incompetente,
De um tubo de ensaio que quebrou;
E o vento se encarrega de espalhar,
O veneno que o próprio homem criou.

Na busca inútil de enganar a morte,
E pregando acreditar no Criador,
Que enviou o seu filho aqui na terra,
Para ensinar o cultivo do verdadeiro amor;
Que não falou da pedra filosofal...
Tudo isto foi o homem que inventou.

Insatisfeito com os prazeres terrenos,
O homem busca na alucinação,
Na natureza procura cumplicidade,
Em busca da falsa felicidade,
Plantando o trigo da perdição,
Colhido com foice da vaidade.

E o abismo vai ficando mais profundo,
E a matraca cada vez toca mais perto,
Até que a surdez do mundo acorde,
E olhe para o que já está deserto;
E replante o jardim que Deus legou...
E não seja pecado alguém falar de amor.





terça-feira, 7 de setembro de 2010


Rei Morto.
J. Norinaldo.

Impressos em línguas diversas
Anunciam a morte do rei,
Que parte sem levar o trono
O reino já tem novo dono,
Que um di também deixará...
A coroa para o ultimo sono.

Desde os primórdios da vida,
Convivem vassalos e reis,
Escravos que servem senhores,
Como a mais antiga das leis;
O homem segue pisando,
No mais imortal dos valores.

No reino de terras imensas,
Exércitos protegem a casta,
Na hora de deixar o trono,
Quando o rei do mundo se afasta,
É tarde para se perceber...
Quão pouca terra lhe basta.

O homem que usa a coroa,
É aquele que pode bem mais,
Mas não foi quem criou o baralho,
E tampouco o jogo da vida,
Onde em qualquer partida...
O rei vale menos que o Ás.

sábado, 4 de setembro de 2010


Colheita Maldita.
J. Norialdo

Da terra de onde brotava o trigo,
Hoje nasce o perigo da morte eminente,
O veneno, a promessa que não satisfaz,
O convite a tumba ainda não construída;
A poeira maldita que não marca pegadas...
Inalada por tantos no poço da vida.

Recrutam-se os jovens a encurtar a vida,
Na triste corrida de sonho e deliro,
Se o trigo não vinga pra fazer o pão,
Outra semente é escondida no chão;
Pra colheita maldita da dor do martírio.
É o homem fechando o seu próprio caixão.

E o ouro cunhado com a esfinge do homem,
Vai comprando de tudo até a verdade,
E a farinha do pão já não precisa do fogo,
Já não mata a fome, mas sim o olfato,
E o mundo cordato aceita e assume...
Que ao Invés do pó, o homem volta ao estrume.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Basta.
J. Norinaldo.
Noites e noites a fio, a solidão o silencio e o frio, são meus companheiros de quarto, estou farto de viver esquecido, de chorar pelo que foi perdido, sem ao menos tentar ganhar. Basta de olhar para trás, tentando arrastar pela vida, correntes que ninguém me legou. Basta, de passar pelas flores sem vê-las, procurando miragens sem te-las, vou a busca da realidade. Vou enfrentar a procela de frente, agarrar-me com unhas e dentes, como naufrago em busca de terra. Ao invés de pensar em tragédia, vou sorrir muito em vez de chorar, transformar esta vida em comédia. Quer vir junto não te faz de rogada, pois eu já descobri o segredo, é encarar a vida sem medo, de ser feliz de sorrir, mesmo que o mundo chore.
Vou abrir a janela ao sol, e sentir os seus raios no rosto, sem a mascara que pintou o desgosto, do casulo a metamorfose, alegria na mais alta dose que a felicidade recomenda, costurar os retalhos da vida, com a linha que alma fiou, ter de volta os dragões da infância, enfim ter a vida que a demência roubou.
Será tão fácil assim? Sim e como será. Que me custa abrir a janela e deixar o sol penetrar, que me custa um largo sorriso, que me custa acreditar no paraíso, que me custa sonhar com você.
Não adianta chorar e gritar a esmo, fui eu que escolhi meus caminhos, e enquanto me lamentava não via, que fui esquecido por mim mesmo. Afinal o meu único crime: construir minha própria prisão. Basta!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Divagando.
J. Norinaldo.

Divagando vou vivendo devagar,
De vagar já cansei de não ter rumo,
Me aprumo mesmo manco no andar,
Em resumo não sei o caminho onde vai dar,
Me consumo nesta vida a adivinhar.

Se conhecesse os atalhos do caminho,
Devagarzinho ir seguindo sem pensar,
Me amparando pela sombra do rochedo,
Sem medo de esquecer meu caminhar,
Divagando caminhando devagar.

Sei apenas onde mora o amor,
O caminho as vezes largo ou estreito,
Lá chegarei mesmo de olhos fechados,
Sem temer os atalhos encontrados...
Tenho a bússola aqui dentro do meu peito.

No caminho do amor também há pedras,
Existem flores, mas também tem muito espinho,
Não adianta ter a bússola no peito,
E orientar-se assim de qualquer jeito...
O amor ninguém encontra sozinho.