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sexta-feira, 29 de julho de 2011



A Pedra Maldita.

J. Norinaldo.

Encontro-me numa senda sem retorno,

Vendo o forno do inferno no final,

Agarrando-me as pedras do caminho,

Apaixonei-me pela pedra mais mortal,

Que sugou toda a minha juventude...

E jogou-me num açude terminal.


Tropecei nessa pedra da qual falo,

Num embalo a buscar felicidade,

No início foi apenas um tropeço;

Um travesso brinquedo da idade,

Fui esquecendo que a vida não tem preço,

Hoje almejo a morte por caridade.


Como um doce que se dá a uma criança,

Essa pedra que passa de mão em mão,

Quem a fez não teve a sinceridade,

De fabricá-la em forma de caixão;

A promessa da falsa felicidade,

Que nas esquinas se compra com facilidade.


Não cheguei ainda ao final da trilha,

E a matilha que me segue esfomeada,

Se alguém me mostrar algum atalho,

Que me livre desta triste caminhada;

Não servirei de repasto para os lobos...

Que colocaram essa pedra em minha estrada.

domingo, 24 de julho de 2011


A Curva da Foice.

J. Norinaldo.

A quem teve tudo que a vida oferece, mas que acreditava que a felicidade está escondida no vidro da mesa, em tiras fininhas como estranha escrita, que para decifrá-las os olhos não bastam, sentir o seu cheiro inalado fundo renegando o mundo e a vida ofertada; a última curva no fio da foice deixando os rastros na poeira branca. E o mundo segue chorando seus astros, buscando nos rastros o indecifrável, da estranha escrita que nuca se apaga, e com a foice afaga cada miserável.

No tampo da mesa, está o veredicto, com o cartão escrito em cada tirinha, tentar decifrá-lo em quem já tentou, e na curva da foice se encontrou com a morte, que é muito mais forte que qualquer escrita, não provando o cheiro buscando a receita, vislumbrando a trilha da curva perfeita que aponta a porta da tumba que espreita.

A quem teve tudo que a vida oferece, mas não viu a Prece que Ele ensinou que a felicidade está dentro de nós, e que a única voz que ouve é do amor, e que a mensagem é livre, linda e sem segredo, em letras graúdas e está sempre aberta; quem cifra o que escreve é por que tem medo, que um dia a verdade seja descoberta.

O que está escrito no vidro da mesa, quem sabe foi a Besta quem escreveu a coice, mórbida alquimia que leva os incautos, ao encontro da morte na curva da Foice.

sábado, 23 de julho de 2011


O Que Sou.

J. Norinaldo.


Eu sou apenas partículas diminutas invisíveis,

Imprevisíveis e juntadas não ao acaso,

Como a beleza de um vaso que vem de inspiração;

Tenho alma e coração sinto dor e tenho um ego,

Por isto a vida me apego e vivo sem restrição,

Tenho amores proibidos, mas se for preciso nego.


Sou como o joio e o trigo como o rio e o arroio,

Como o tijolo e o barro, como o couro e o arreio,

Divisível como a pedra e o martelo do leilão;

Sofrível como um ser vivo, valente como um leão,

Sábio sem descobrir como é a alma de um feio,

Bondoso, me vanglorio quando pratico o perdão.


Aprendi nos alfarrábios a tagarelar a esmo,

Desconfio de mim mesmo e da minha sabedoria,

E da verdade que prego como sendo verdadeira;

Em quase tudo que escrevo vejo alguma poesia,

Critico outros poemas por não serem iguais aos meus...

Afinal que quero ser? Um ser humano ou um deus.

sexta-feira, 22 de julho de 2011


A Trilha da Vida.

J. Norinaldo.


Culpar o mundo pelo meu destino,

É culpar o sino pela minha fé,

Quem caminha sempre por caminhos feitos,

Só ver os defeitos caminhando a pé;

Quem não aprendeu a fazer sua senda,

Jamais tece o pano para o seu altar.


Quem manobra o barco a atracar no cais,

Nunca é que fez a quilha perfeita,

Quem degusta o fruto que foi escolhido,

Nunca está presente na hora da colheita;

Quem teceu o linho que enfeita os dosséis,

Não fala do púlpito para seus fiéis.


O homem que grita a frente da tropa,

A pedra angular no arco do templo,

A vaga que embala a quilha do barco,

Aqueles que seguem o homem que grita,

Como um rio que corre por um leito pronto...

São flechas atiradas a esmo ao vento.


Quem semeia o trigo pra fazer o pão,

Deixa pelo chão seu caminho feito,

Celebra a colheita com seu próprio vinho;

Como o rio forja o seu próprio leito,

Esquece do boi que puxa o arado...

Que a trilha da vida não se faz sozinho.

terça-feira, 19 de julho de 2011



O Deserto e o Homem.

J. Norinaldo.

O deserto é tão necessário para alertar o homem, que a terra morre e com a morte da terra o homem não come, e sem alimento a vida na terra some. O mar é tão grande, mas já foi bem maior, mar e deserto talvez tenham sido um só, o sal no deserto a areia no mar, talvez pra mostrar que a pedra também vira pó. As ondas do mar e as dunas de areia, o balanço das velas e o tranco do camelo, navegar é preciso viver já nem tanto, para o homem que reza num templo infinito e cozinha seu pão no calor da areia.

O deserto prossegue a iludir a visão, mostrando o que tinha antes da destruição, água cristalina em cada miragem, antiga paisagem na imensidão. O mar revoltado com tanto descaso, como a água de um vaso esquecido ao relento.

O vento que agita no mar a procela, é o mesmo que cria a tempestade de areia, a indiferença no olhar do camelo, como o necessário deserto onde foi maré cheia.

O homem é o pássaro que destrói o a árvore onde está seu ninho, como o vírus que mata o seu hospedeiro, o deserto é a febre que alerta o doente, o pavio da bomba prestes a explodir, a sombra do lobo que assombra o caminho, quem sabe o homem ao fazer o deserto, está tentando criar o camelo marinho. Antes da terra morrerá o homem, antes da árvore cairá o ninho.

segunda-feira, 18 de julho de 2011


Ser Feliz.

J. Norinaldo.


É feliz o caminhante do deserto, quando sabe estar no caminho certo, é feliz que busca a paz para o espírito, e encontra a porta do Templo aberta. É feliz quem dar um pão a um faminto, é feliz o faminto que aceita. É feliz quem oferta uma rosa, uma prosa, um poema uma canção; é feliz quem recebe tudo isso, é feliz quem faz feliz um coração. É feliz quem sorrir por estar vivo, qual motivo maior de felicidade, é feliz quem está velho e não se cansa de dizer que está na melhor idade. É feliz quem se levanta da queda, mas não arreda o pé do seu caminho, é feliz quem se liberta da corrente, é feliz quem liberta o acorrentado, é feliz quem não se esquece do passado, para não ser acorrentado novamente. É feliz quem se ama e se aceita, não existe fórmula ou receita; simplesmente é querer e ser feliz.

sexta-feira, 15 de julho de 2011


Cadafalso.

J. Norinaldo


Se a vida reservou-me o cadafalso,

Eu não disfarço a decepção que tenho,

De viver sabendo onde vou parar,

Sem saber do lugar de onde venho,

Vou seguindo o caminho já tacado...

Com o passo vacilante de um sonâmbulo.


Se o prelúdio coincide em todo ato,

Se de fato no destino está escrito,

Se existe o cadafalso para tantos,

E todo o caminho é finito;

O galo ofertado a Esculápio...

Não foi para o cadafalso aos prantos.


A vida vivida é a mentira do consolo,

Para o tolo que acredita no desvio,

E que o fundo é a pior parte do poço,

Se a vida não passa de um fosso,

Que sempre leva ao cadafalso,

Ao nada ou ao eterno vazio.


O vento que embala a mansa vaga,

Que cavalga a imensidão do oceano,

Forma dunas em tempestades de areia,

Todo sal que existe no deserto,

Que por certo um dia foi maré cheia...

Até o mar também tem seu cadafalso.


quinta-feira, 14 de julho de 2011


A Espada e o Espinho.

J. Norinaldo.


Se a ferida é o sinete do confronto,

Não encontro motivos pra me ferir,

A não ser no espinho de uma rosa,

Que colho para oferecer a ti,

Se a vida vale a pena ser vivida...

Não vou chorar em vez de sorrir.


O riacho corre lento e cristalino,

E o vento canta a mesma ladainha,

A felicidade só revela o endereço,

Se a espada continua na bainha;

Sofrerei com a ferida que mereço,

Se desprezo a vida a culpa é minha.


O amor não tem preço e nem idade,

A felicidade não se encontra por acaso,

Sozinha a espada não se funde;

É o ego do homem quem confunde,

A beleza da rosa com o vaso,

E despreza a pureza do espinho.

segunda-feira, 11 de julho de 2011


Pássaro na Antena.

J. Norinaldo.

O Barco me leva ao sabor do vento,

Como o canto lento de um passarinho,

A sonata triste de uma esperança,

De encontrar um galho para o seu ninho;

Eu componho a letra daquela canção,

Por saber de cor o que é ser sozinho.


O pássaro voa e a antena balança,

A árvore cinza que já não dá fruto,

Nem sobra gravetos para o seu ninho,

Cadê a floresta que existia antes?

E o alimento para o filhotinho,

Hoje só o lixo desses navegantes.


Essa árvore fria com galhos iguais,

Na mata de pedra que o vento não move,

Que não tem a sombra que abriga do sol,

Nem serve por teto na hora em que chove;

E o homem segue desmatando tudo...

E com o canto triste já na se comove.


E o meu barco segue singrando este mar,

Semeando o campo a espera do vinho,

Sem me importar o que diz o canto,

Que insiste em cantar esse passarinho;

Preciso comprar uma nova antena...

Que seja melhor que a do vizinho.

sábado, 9 de julho de 2011


Violino Misterioso.

J. Norinaldo.

Como uma cimitarra invisível corta a noite, acordes de uma canção, de um violino que não sei de onde vem, mas impregna com teu cheiro os meus lençóis, e aquece o frio do lugar que está vazio. Afogar mágoas só existia em poesia, sem saber de onde vem a melodia e sem poder pedir que não pare mais, de tocar seu instrumento que me traz de volta a sombra do que foi um grande amor e por momentos esta paz interior. Acordo sempre antes do concerto, às três horas da manhã tudo começa, às vezes chove e os pingos na vidraça seguem o compasso do artista que se esmera que talvez sofra como eu com uma ausência, e esta canção ameniza sua espera; quem sabe um dia para nós o frio inverno, ceda o lugar a uma linda primavera.

Quem acorda com acordes de uma valsa, tem a falsa impressão que está no céu, vendo a noite com seu véu todo estrelado e ao seu lado um travesseiro frio, que ainda guarda o perfume que ficou, de alguém que se foi e não voltará, só me resta a canção da madrugada, até que o artista já não queira mais tocar. Quem sabe sua espera terminou, e minha madrugada, ó! Meu Deus o que será?

Talvez como numa poesia, numa noite fira meu sonho se concretize e de repente minha ânsia não resista, siga os acordes dessa canção, e como um poema que Deus escreveu a mão, descubra ser você a misteriosa violinista.

quarta-feira, 6 de julho de 2011


O Destino.

J. Norinaldo.

O destino é o relincho de um cavalo,

Se puro sangue é reconhecido longe,

O pangaré serve pra carregar peso,

E ter o desprezo da montaria do abade,

Do velho frade que unge o corpo do monge.


Ninguém controla o próprio destino,

E cada sino taca num tom diferente,

Em cada anca há uma marca bem distinta,

O mesmo ferro marca gado e marca gente,

Marca de fogo é diferente de tinta.


Se hoje se queima o gado marcado a ferro,

Ouve-se o berro do destino derradeiro,

E o relincho puro sangue garanhão,

Igual aos gritos de quem morreu no braseiro,

Da fogueira da santa inquisição.


O homem segue queimando o irmão vivo,

Seguindo o livro que lhe dá absolvição,

Marcando a ferro tanto gado como gente,

Alimentando o fogo da inquisição,

Na esperança, que no fim terá perdão.

segunda-feira, 4 de julho de 2011


A Verdade da Caverna.

J. Norinaldo.

Recuso-me a aceitar o aceitável, o pronto por que tem que ser assim, por mim quero mais de uma resposta, se o fardo pesar mais as minhas costas, não importa seguirei até o fim; se o arco do templo não se gasta, nem afasta essa possibilidade, buscarei mais perguntas que respostas até formar o mosaico mais completo. Nas paredes da caverna de Platão, talvez escritos com o negro do carvão, da fogueira que iludia acorrentados; se libertos seguiram conformados com as sombras projetadas pelas chamas ou as marcas que deixaram pelo chão; não farão jamais parte do meu séquito, em busca da verdade por inteira, na fronteira da loucura da razão.

Se precisar baterei a cada porta, concitando a perseguir a mesma busca, contornando o abismo com astúcia, escrevendo por fora da caverna, com a fuligem da tocha que clareia, o labirinto do meu desconhecido. Quando o mosaico da verdade estiver pronto, todo o encanto da mentira desmorona, como um castelo de areia.


O Poeta e a Verdade.

J. Norinaldo.

Meu poema vai ficando sem assunto, apesar de o amor ser infinito, se as fogueiras das cavernas se apagaram, mas as correntes não se rompem por completo, mesmo as flores conservando seu perfume e o canto do sabiá manter o tom e o arco íris não mudar as suas cores; vejo a vida diferente e sem sentido, consumido por labaredas de flores.

Bem vindo aquele que fala somente de amor, a poesia passa a ser um linimento, cura feridas por momentos faz esquecer a dor, mas traz seqüelas depois que o tempo passou, e toda beleza que o poeta alardeia, é como salmos que escritos na areia o vento trouxe a maré cheia e carregou.

Qual o poeta que ainda não falou da lua, da deusa nua ou das Valquírias prateadas, musas desnudas esquipando na esplanda, num diamante que brilha mais que o sol, no arrebol, na flor de Lótus tão amada.

Alguns poetas que até nem lembro mais, que falavam em corredores frios de hospitais, em becos sujos e cobertores de jornais, em meretrizes em doentes terminais, ou quem jamais soube o que é felicidade, foram malditos por poetarem a verdade.

Não sei como é a perfeição, e o meu poema, se poema tem deslizes, mas quantos poetas anteciparam a despedida, com as mãos tirando a própria vida, seria por serem demais felizes?