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sexta-feira, 30 de setembro de 2011






O Pqueno Polegar.

J. Norinaldo.


Prisioneiro de eternos pesadelos,

Que resgatam cenas de outras vidas,

Quando o palco era a arena da morte,

E os que morriam me saudava em despedidas;

Quando meu polegar apontava para o chão...

Hoje me perseguem em labirintos sem saídas.


Como posso resignar-me a tal castigo,

Se não consigo me lembrar quem fui outrora,

Por que quem me concedeu o poder de comandar,

Não assume o meu sofrimento agora?

Ou me explica o que é que vou ganhar...

Em outra vida sem baixar meu polegar?


A noite enquanto me consumo em pesadelos,

Devorado por leões enfurecidos,

Quem me deu o poder em outra vida,

Hoje baixa o polegar na minha hora;

Por que será que mereço tal castigo,

Se na verdade eu nem sei quem fui outrora?


Quem me deu o lugar na arquibancada,

Enfeitada no lugar onde eu sentava,

E o direito de escolher os que morriam,

Simplesmente quando o polegar baixava;

Será que os escolhidos para a arena...

Já tinham baixado, o polegar e não sabiam?

quarta-feira, 28 de setembro de 2011



Rosário de Grilhões.

J. Norinaldo.


A corrente que me prende aos grilhões,

São meus medos que se entrelaçam,

E como fantasmas se abraçam,

O medo com medo de me perder;

Sou covarde e não faço segredo,

E meu maior medo, é por isto vir a te perder.


Quanto maior o medo mais fraco é o elo,

E o amor mais difícil se torna mais belo,

Por mais forte a corrente que o medo faça,

Por mais pesados que sejam os grilhões,

A força unida entre dois corações...

Reduz a tração da corrente em fumaça.


Cadeias, correntes de medos, grilhões,

Senões que tornam a vida impossível,

Sombras, fantasmas de antigas paixões,

Açoitam a alma de forma terrível;

O falso desejo que assola a carcaça...

Embaça a visão, da vida que passa.


Sementes de medo que brotam em grotões,

Invadem os salões povoando os espelhos,

Em ramas trançadas que viram correntes,

E os acordes perfeitos embalam corações;

E os espelhos refletem as paixões ardentes,

Que se somam ao rosário de novos grilhões.

terça-feira, 27 de setembro de 2011



Louco Poema.

J. Norinaldo.


Castelos de areia não abrigam tiranos,

Bonecas de panos não conhecem a maldade,

A neve se derrete e se transforma em lama,

Das bonecas de pano só resta a saudade;

E os castelos de areia que a inocência reclama...

Num velho poema que um louco declama.


Se a antiga flecha hoje é bem mais veloz,

Calando a voz de quem justiça clama,

Que o menino retorne ao castelo de areia,

Sem trono ou salões a vontade tirana,

Que será destruído pela maré cheia,

Enquanto este poema um louco declama.


Se há laivo de sangue no manto tirano,

Servira de retalho a boneca de pano,

Que com olhos pintados mantém acesa a chama

Que o amor tenha sempre o céu como teto...

E o castelo de areia do menino arquiteto,

Seja o predileto poema que um louco declama.


O mar não sovina a areia ao castelo,

Porém, por ser belo a maré não o desvia,

E o menino arquiteto não chora ou reclama;

Não conhece a blasfêmia ou a heresia,

Constrói novamente seu castelo de areia...

Como eu doido construo, esse louco poema.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011


Paz, Loucura e Razão.

J. Norinaldo.

Enquanto a paz almejada não chega e a esperança gagueja impropérios, a violência se torna rotina, como papo em boteco de esquina, como a moça a caminho do mar. Ao futuro se delega o encargo, da sanção do veto ou embargo, da maneira do mundo viver. Assim caminha a humanidade, com a desculpa que a verdade, se foi com o elo perdido. Se o elo um dia encontrado, não remenda o que foi devastado nem devolve o que já foi perdido, talvez até haja mais tropeço, como em todo recomeço de quem foi por tanto tempo iludido. Será que a paz que reinava no início, não faria do mundo hoje um hospício transformando a loucura em razão? Será que almejamos a paz realmente, e que a guerra seja daqui pra frente, apenas um ponto de interrogação? Que será dos nossos heróis, o que escreverão sobre nós, no futuro que nunca há de vir. Amanhã quando chega é hoje, ontem ninguém lê este texto, o que existe de fato é o hoje, onde a paz não se faz presente.

domingo, 25 de setembro de 2011


O Poeta e o Mundo.

J. Norinaldo.


Neste mundo em que agora me vejo,

Como uma andorinha na primavera,

Como as folhas no outono em pleno bailado,

Ao som da vassoura que as leva ao lixo,

Ou o nicho que esconde alguma quimera.


No semblante da vida a carranca da morte,

No fio da espada o açoite dos ventos,

No rosário da taça a assinatura cifrada,

No rodapé dos poemas dos meus pensamentos,

Que deslizam na areia sem dizerem nada.


Neste mundo em que agora me vejo,

E que muito desejo cantá-lo em prosas,

Falando de amor, carinho e ternura,

Subir a montanha mostrando a candura...

Com o cabo da espada enfeitado de rosas.


O que sofre o poeta no mundo em que vive,

Não que se prive dos amores carnais,

Porém aquele que tem um poeta dentro de si,

Paz neste mundo não terá jamais...

Enquanto a paz neste mundo existir.


sábado, 24 de setembro de 2011


Meu Pensamento.

J. Norinaldo.

Nada vai mudar o que eu penso, e dispenso os conselhos que me tentam, que não se contentam simplesmente em discordar, vago as noites sem estrelas do meu ser, sem entender por que escuro tem que ser, nem vaga lumes vagabundos sem destino, um navegante a deriva sem farol; um deserto sem miragem e sem o sol, como a fogueira inquisidora sem ter chama, pintada numa aquarela de lama, na parede de um tirano sem castelo.

Se a beleza que desejam não ostento, consola-me o dom da poesia, afio minha espada dia a dia, reluz o meus escudo de metal, nada faço para alimentar o bem, só pensando em combater o mal, se faço chorar esqueço as lágrimas nunca levo lenço em meu bornal. Não entendo a curva no cajado do pastor, nem me interessam as histórias de amor, por que simplesmente sou normal.

Nada vai mudar meu pensamento, na verdade eu só sei pensar em mim, você que está lendo este meu texto, reflita e veja se encaixa no contexto, será que também não pensa assim? Antes de findar, na verdade eu já mudei, veja bem o que lhe perguntei... Talvez esteja já pensando em você.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011


Sonho Molhado.

J. Norinaldo.


Se em meu sonho entras vestida de Eva,

E na pele conserva o perfume que atrai,

O sinete que deixas em suor nos lençóis,

No arfar dos teus seios quando a vida se esvai;

Como vagas que embalam corais nos atóis.


E no faz de conta que a vida nos prega,

Essa ânsia cega nos leva a loucura,

A eterna procura ao buscar a maçã,

Só as lágrimas tornam o travesseiro frio...

Ao beijar o vazio a cada manhã.


Se a púrpura rosa que a mim ofereces,

E se em sonho consigo sentir seu sabor,

Se beijo outros lábios úmidos de paixão,

Sem medo, sem nojo por puro tesão...

Em sonho eu sei o que é fazer amor.


Quando da taça transborda o néctar da vida,

Em fim saciada do meu sonho te vais,

Ainda ouço os acordes da mais linda canção,

Que a noite compôs com teus gemidos teus ais...

Sentindo a lava morna que ficou no colchão.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011


Naufrago.

J. Norinaldo

Soltem as amarras do meu barco, não temo a tempestade a procela, que o vento estraçalhe a minha vela, naufragado já estou mesmo em terra. Este barco carregando minhas mágoas, minhas lágrimas que hão de acrescer o mar, pelo menos nessa luta sou um bravo, não escravo de quem não soube me amar. Se por acaso da procela saio vivo, terei motivo pra valorizar a vida, e procurar na estrada prometida o amor que até hoje não consegui encontrar. Soltem, não segurem mais meu barco, neste charco não pretendo mais ficar, formando pântanos de lágrimas doridas, por alguém que não merece o meu sofrer; deixem que as vagas me levem para o fundo, pois viver neste mundo sem amor, como o poeta já dizia, sem amor não existe poesia, e quem pensa que vive só pensou, na verdade... não viveu só passou.

terça-feira, 20 de setembro de 2011


Amor e Sedução.

J. Norinaldo.


Helena conquistou Menelau com a beleza,

Mas, a Paris foi que entregou seu coração,

E o conquistador conquistado pela mágoa,

Levou seu povo a uma guerra sem razão;

Por uma sede que não se mata com água,

Mas com a força que se tem no coração.


Se o cavalo de Tróia simboliza a traição,

E se Paris não era tão bom espadachim,

Foi escolhido por Helena mesmo assim,

Mas, para o mundo ficou uma lição:

Que o amor não se planta num jardim...

E que a beleza traz apenas sedução.


Quem não teve uma Helena em sua vida,

Que perdida de amor por um Paris,

Nem notou sua destreza com a espada;

Sequer sabe por que você é infeliz,

Amor não correspondido tem perdão...

Para quem não sabe o que é amor e sedução.


Eu amo, tu amas, nós amamos isto é certo,

Como o deserto está repleto de miragem,

A conquista de um amor é diferente,

Não necessita de espada ou de coragem;

É só seguir os ditames do coração...

E de repente, a razão se faz bobagem.

domingo, 18 de setembro de 2011


Castelo de sonhos.

J. Norinaldo.


Não escrevo tudo aquilo que sinto,

Nem revelo tudo o que sonhei,

Não escondo, no entanto o que é belo,

Não perguntem onde fica o castelo,

Ou quantas listas nos calções do rei;

Ou vos digo: simplesmente não sei.


Eu não tenho o leme dos sonhos,

Nem o mapa dos sonhos que sonho,

Se tenho o dom de escrevê-los desperto,

Os meus sonhos nunca esquecerei;

Não perguntem as causas dos gritos,

Ou vos digo: simplesmente não sei.


Se os meus versos desagradam alguém,

Mas agradam uns poucos, me basta,

O capim nas nasce com cor diferente,

Depois que o cavalo do rei ali pasta;

Por que não há marcas nas pedras onde sentei?

Simplesmente vos digo: eu não sei.


O que quer dizer meu louco poema?

Quem sabe um dia até te direi,

Quem cuida do cavalo do abade,

Será que sonha em dia ser frade?

Isto eu também já me perguntei;

E me disse: eu simplesmente não sei.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011


A Noite e o Mar.

J. Norinaldo.


A noite absorve toda a sombra, como o imenso mar que acolhe os rios, e as miragens se escondem na areia, e não são levadas pelo vento; quando o vácuo do nada e seus tentáculos varrem da mente o pensamento. Navega o Tuareg suarento, em busca do sal que há na areia, tão longe do mar que acolhe os rios. Se na lente está a vida diminuta, que luta para destruir a vida, navegando num mar que se limita, a um pequeno tubo de ensaio. A noite não contamina a sombra, como os rios contaminam o mar, a lente não mostra o nó de cânhamo, como uma gravata de cisal, cujo espinho na ponta como lança sem ajuda não alcança o coração.

O poema do louco desvairado, que vive no pântano que margeia a existência, pela dor, a carência a solidão, catando os gravetos da paixão para a fogueira que aquece a sombra fria, na poesia que faz renascer a vida, e traz doce onde só havia sal, dando cores a gravata de cisal.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011


O Caule da Vida.

J. Norinaldo.

Sob o arco do templo me curvo, sob a sombra do monte me amparo, sob o átrio da câmara me calo, sobre o piso da sala do trono eu me ajoelho perante seu dono, desejando matar meu senhor. Meu camelo me segue sem pressa, mastigando algum talo sem gosto, no olhar somente indiferença, sem ter crença, amizade ou desgosto. Na dobra quadrada da esquina, a marca do tempo se prende a resina do caule da vida. O limo grudado nas pedras do arco, dá vida a avenca que baila com o vento, e adorna a entrada do templo em ruína. E o camelo me segue com indiferença enquanto caminha seu talo rumina; as marcas do tempo no caule da vida, como o limo das pedras do arco do templo, arredondam com o tempo o quadrado da esquina. Quando as luzes se apagam e se fecha a cortina, o ato termina e os aplausos não vêm as estrelas não brilham, e o camelo não masca mais seu talo sem graça, só no último ato o homem aprende, enquanto a casca se desprende do caule da vida.

terça-feira, 13 de setembro de 2011


Morena de Angola.

J. Norinaldo.


Dos brilhantes que adornam teu sorriso,

Neste mundo encantado de Afrodite,

Nenhum deles é mais raro que teus olhos,

Como outros que encantaram o Egito;

Os belos olhos da rainha Nefertite,

Como o deus sol que encantava o infinito.


Não importa a cor que tenha o manto,

Nem o mistério que se esconde na esfinge,

A beleza do castelo esta no todo;

A flor de Lótus só brota onde há lodo,

Teu sorriso mostra ao mundo uma verdade...

Que a cor, não revela, apenas tinge.


O meu país num exemplo de grandeza,

Entregou-te o que é teu por natureza,

O manto, o trono a coroa e o bastão,

Mostrando que em cada coração;

Existe um rei ou uma rainha da beleza,

Lembro Anastácia no tempo da escravidão.


Canta angola o teu canto de alegria,

Hoje o planeta volta os olhos para ti,

E as aves cantam a canção do paraíso,

Se já não tinhas mais motivos pra sorrir,

Diz ao mundo que a beleza não tem cor...

E com amor, também é teu este sorriso.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011


Como Posso?

J. Norinaldo.


Como posso ter lugar no coração para admirar a beleza de um flor enquanto busco no monturo por um pedaço de pão? Como posso me encantar com seu poema no jornal, enquanto busco minha filha que perdi para o mal? Como posso acreditar na esperança, se vi hoje uma criança roubando o pouco que eu tinha? Como posso acreditar nas escrituras que são lidas nas alturas do palco da hipocrisia? Por que Jerusalém é tão longe, por que a fala do monge eu não entendo tão bem? Quem foi que em sua sã consciência me trocou a inocência por esta falta de fé? Por que sonho que estou num castelo, tendo o quarto mais belo, dormindo embaixo da ponte? E vejo toda humanidade, na maior fraternidade, enquanto morro de sede, caído ao lado da fonte? Por que tanto ódio, por que tantos medos? Para que tantas Siglas e tantos segredos? Por que hoje falamos através dos dedos, sem vermos os olhos de quem nos escuta? Vejo gente morrendo por um pedaço de pano que algum tirano mandou desenhar por prazer, enquanto no fausto e no luxo manda matar que ousa lhe desobedecer.

Onde está a caneca de cicuta a mim destinada? eu quero beber e brindar a vitória, só não sei de que.

sábado, 10 de setembro de 2011


Nada.

J. Norinaldo.


Quem escreveu o meu destino,

Tinha uma letra caprichada,

Que não mudou e nem tremeu,

Quando em meu livro escreveu...

Que nesta vida eu não seria nada.


Que sábio que escreveu o meu destino,

Com aquela sua letra tão caprichada,

Porém só depois de crescido entendi;

O que quis dizer não seria nada...

Nada é nada e eu sou eu e estou aqui.


Quando alguém te disser: tu não és nada,

Não te ofendas, não chores, não fica triste,

Mesmo que o tom seja de um insulto;

Só em ouvi-lo tu já prova que existe,

E nada é nada, que não tem sequer um vulto.


Não sou nada, eu sou eu com muito orgulho,

De um pedregulho pode surgir um brilhante,

Quem escreveu o meu destino com a letra caprichada;

Sabia que nada é mais humilhante,

Que alguém, que se humilha por não ser nada.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011


Triste Bailado.

J. Norinaldo.


Danço a passos trôpegos de um bêbado,

Ao som dos guizos de uma cascavel,

Tendo como único teto o relento,

Como prova de que vivo o pensamento...

E a doçura de uma taça de fel.


Num bailado de espectros errantes,

Como as sombras da caverna de Platão,

E a peçonha da víbora maestrina,

E no passo da balé que a vida ensina,

A ver o monturo por tapete do salão.


E os guizos da serpente desafinam,

Enquanto a taça de veneno se derrama,

Apagando a fogueira da caverna;

No olhar da serpente a chama eterna...

A sombra brilha mais do que a chama.


E no bailado de espectros errantes,

Na caverna ou no salão do castelo,

Não importa se a taça é de cristal;

A sombra não difere na parede...

De um archote ou de um lindo castiçal.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011



Retirantes.

J. Norinaldo.


Quando o azeite das candeias se acabar,

Não houver mais atualização de vírus,

Será que o homem voltará para a caverna,

Abdicando de uma vida tão moderna,

Voltando, a escrever em papiros?


Será que um dia os abismos se nivelam,

E revelam a verdade sobre a vida,

Ou elo que se perdeu será achado?

Numa arca que naufragou no passado,

Com o mistério da chegada e da partida.


Quando os desertos forem maiores que o mar,

E os rios não tiverem mais onde chegar,

As chaminés tingindo de negro o céu;

E o véu da noite for mais longo que o dia,

O fogo morto não consiga mais queimar.


E como escreveria a história novamente?

Se recordar a vida que teve antes,

Já que tudo não foi mais que uma passagem,

Que mensagem deixaria aos que virão...

E que serão, somente os próximos retirantes.

terça-feira, 6 de setembro de 2011


A Agulha e o Bordado.

J. Norinaldo.


Se a agulha é o punhal que fere o pano,

O bordado é a chaga que lhe fica,

Para o sábio um pingo é uma letra,

Muitas letras o saber significa;

Se a agulha magnética mostra o norte,

A morte na verdade nada indica.


Se a montanha é um defeito da terra,

Não encerra o mistério da planície,

Da esfera esticada e sem buracos,

Se o perfume depende do alquimista;

O líquido dependerá de frascos,

Como as letras nas palavras escritas.


Se o amor é a terapia da vida,

Sem punhal ou bordado colorido,

O mistério da planície é explicado;

Como a esfera espichada ao cumprido,

Não existe um amor pela metade...

Na verdade nenhum amor bandido.


Na harmonia entre o vento e o perfume,

Não há ciúme de quem leva ou de quem é,

E não há rancor entre a agulha e o bordado,

Se o alquimista tira o perfume da flor,

E se o amor tem tudo a ver com fé...

Meu coração está bordado de amor.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011


O Silêncio do Escuro.

J. Norinaldo.


Quem falava a mesma língua se calou,

E o escuro tão temido se acendeu,

E o fruto já não nasce como antes,

O que o escuro escondia apareceu,

E os mudos agora são falantes,

A semente plantada não floresceu.


O troar do canhão ficou mais perto,

Mas o oásis do deserto resistiu,

A gordura da terra virou ouro,

É o tesouro do tirano que caiu;

E o mundo esperando nova guerra...

No preço da bolsa por barril.


É o homem explodindo a própria vida,

Na corrida da ganância e do poder,

Esmagando com os pés seu semelhante,

E o mudo vai falando sem saber...

Que o silencio também é importante,

E que a semente no paiol não vai nascer.


O turbante, a coroa ou o bastão,

Na mão do tirano é covardia,

Se a semente não brota no deserto,

E o troar do canhão está mais perto...

O crime compensando a cada dia,

O silencio do escuro é que está certo.

domingo, 4 de setembro de 2011



A Esperança.

J. Norinaldo.


Quando a minha esgarçada esperança,

Bater asas e não mais sair do chão,

E no meu peito a saudade das alturas,

Como os espinhos das minhas amarguras...

Ferirem aos poucos o coração.


Farei o meu refúgio na montanha,

Sem levar por mobília minhas cismas,

Sem temer a altura do abismo;

Vou olhar para o alto sem rancor,

E plantar o meu amor sem sofismas.


Plantarei um jardim com flores lindas,

Oferecendo ao vento seu perfume,

Encantando-me com o voejar do beija flor,

E com o zumbido da abelha sem ciúme...

Pois no estrume pode nascer o amor.


A esperança é como a nascente de rio,

Que começa com um fio e logo cresce,

Vira um rio e se encaminha para o mar;

Não morre, mas também desaparece...

Se quem a tem, pensa somente em voar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011






A Palhaça que Falava o Mandarim.

J. Norinaldo.


Um pequeno circo sem lona e sem leões,

Onde os anões eram gigantes de marfim,

Que retratavam os dragões do eu menino,

Apaixonei-me pela palhaça mais linda...

Uma deusa, que falava o mandarim.


Jamais esqueço da chegada e da partida,

Nesta vida de onde um dia irei partir,

Desta nômade de um sorriso encantador;

Que com certeza foi o meu primeiro amor...

Partiu levando o meu jeito de sorrir.


Um pobre circo, uma trupe sem talento,

Cujo relento era o teto do seu mundo,

Mas quão profundo marcou seu nome em mim;

Uma palhaça para muitos, até sem graça...

Mas que era bela e que falava o mandarim.


Freqüentei circos com leões e domadores,

Domando as dores que até hoje dói em mim,

O tempo passa, eu cresci o que é normal,

Hoje sei que aquela deusa vive em Lisboa Portugal...

Não é a mesma e até esqueceu o Mandarim.


Para provar a grandeza desse amor,

Fiz de tudo e aprendi o Mandarim,

E ainda falo até com certa fluência;

No fundo a vida até parece penitencia...

Não me deixar esquecer quem nunca lembrou de mim.




O Tempo e o Espelho.
J. Norinaldo.


O tempo é senhor de tudo, faz e desfaz quando quer, houve um tempo em que podia, houve outro em que havia, já houve um tempo qualquer. O tempo às vezes está bom, o tempo passa depressa quando a gente não quer. O relógio marca o tempo, mas vem de um tempo pra cá, alguém ganha ou perde tempo sem ter o tempo sequer, o tempo é o inimigo número um da mulher. O tempo tem um cinzel que arranha aos poucos a beleza, como aprendendo escrever na louça da vaidade, o tempo não tem idade, ou não se sabe se tem não deixa livre ninguém, mesmo causando desgosto, vai rabiscando no rosto o tempo que cada um tem. Quando tiver um tempinho, preste atenção ao tempo esqueça um pouco o espelho que nada pode fazer, e pode ser enganado mostrando aquilo que vê, mesmo sem olhos te  mostra, aquilo que queres ser; disfarçando a escrita, que o tempo teima em escrever.