Zumbis do Teatro dos Horrores.
J. Norinado.
Os canhões ora mudos como sombras
e as bombas rotas e esfarrapadas, as espadas sem bainhas e enferrujadas,
entrelaçadas como barragens de castores; e os donos da guerra antes senhores,
vestindo farrapos incolores plantam tomates nas lavouras. Os estandartes com
águias, touros e leões, que ornavam brigadas e divisões, são fantasmas que
assustam multidões, mas não impedem os protestos opositores, que gritam aos
surdos senhores, com palavras de ordens e palavrões. Os hinos têm outros teores
e ao invés dos antigos tambores, Clarins e taróis, guitarras e voz de tenores determinam o ritmo da parada. Os canhões
enferrujam nos paióis e os antigos heróis condecorados, hoje plantam tomate nas
lavouras, alfaces pepinos e cenouras, enfileirados como soldados para revista,
para alimentar o guitarrista que determina o ritmo da parada. A cavalaria agora
vem a pé e a marcha agora é a ré, para um passado que já não se vista. Mas
ainda existem sonhadores, que desejam a volta dos tambores e o grito dos
senhores a ser ouvido, todo duro na posição de sentido, escondido atrás do elmo
dos horrores. E ainda falam do grande combate a ser vencido, passando inspeção
na plantação de tomate, como um exercido de soldado colorido. O comboio para o
futuro já partiu, mas o surdo dos olhos sequer viu, porque seu presente não
passa de premissa, é como a areia
movediça, onde apodrece o seu fuzil.
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