Como Seria seu Rosto?
J. Norinaldo.
Nossa! Parece que foi ontem quando eu ainda sabia sorrir,
quando ainda sonhava com aquela linda menina; tão meiga, ainda lembro o prazer
em vê-la de longe, mas vê-la eu ainda sabia sorrir, não para ela, mas pensando
nela que na verdade nunca pensou em mim; mas eu tinha o prazer de sonhar e
acreditava nos meus sonhos; quiçá se juntos ficássemos não seriamos felizes,
mas ela não me quis, nunca o disse por que eu também nunca perguntei; claro
sabia a resposta de cor, e o pior sempre preferi a dúvida, por menor que fosse
havia, pelo menos na minha cabeça e eu sorria. Hoje ninguém me vê sorrindo por
que não sei sorrir, a menina que existia não existe mais eu ainda existo, mas
sem saber para que; por que você foi morrer e por que fui esquecer suas
feições; lembro-me de tantas coisas que antes de te conhecer aconteceram e não
se foram com o tempo, mas seus rostos não consigo me lembrar; talvez seja
melhor assim, imagine que hoje já não fosses tão bela para mim, conheci tantas
mulheres, tantas meninas e se você estivesse aqui, será que eu voltaria a
sorrir? Será? É parece que foi ontem, mas não foi, faz muito que para mim
apenas o tempo conta e quando me dou conta o tempo já passou. Vivo tentando
lembrar suas feições sem saber por que, será que o direito de sonhar é um
privilégio ou para muitos não passa de um castigo, comigo tem sido assim.
Sonhar, viver de sonhos, uma vida inteira como vivi e bem antes do meio do
caminho parou de sorrir. Hoje, um olhar distante, perdido entre o nunca e o
nada, buscando em cada tela, o rosto dela e para que? Para sofrer, mais, bem
mais do que já sofri, desde que esqueci as suas feições e nunca mais sorri. Não
invejo quem sorri, não sei mentir, não invejo quem não precisa buscar num
passado distante, um rosto, um semblante que o tempo fez esquecer; quem sabe
por compaixão, o tempo não deixe hoje que me lembre sua feição; por isto choro
e não minto, ela é para mim como o
vento, eu não o vejo, mas o sinto. Sabe, uma noite, sonhei e vi teu rosto,
refletido num vinho derramado sobre uma toalha púrpura como um belo por do sol,
mas como ondas de um mar de aflições, eu não conseguia distinguir tuas feições;
acordei e mais uma vez chorei, já que a muito já não é mais sorrir.
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